Embora ainda seja uma condição relativamente nova em termos de reconhecimento público, várias celebridades e figuras notáveis já se abriram sobre sua experiência com afantasia. Além de nomes como Ed Catmull e Blake Ross, outros famosos também descobriram que têm afantasia e compartilharam como isso os impacta, seja na carreira, nas relações interpessoais ou na vida cotidiana. Vamos explorar mais nomes e casos famosos que revelaram viver com essa condição, e como ela molda suas vidas.
1. James Harkin – Comediante e Pesquisador do Podcast No Such Thing As A Fish

James Harkin, pesquisador do popular podcast de comédia No Such Thing As A Fish, revelou publicamente que vive com afantasia. Como alguém cuja profissão envolve explorar informações, fatos interessantes e ciência para compartilhar com o público, sua experiência com afantasia chamou a atenção de muitos ouvintes.
Harkin explicou que nunca foi capaz de visualizar nada, o que se tornou evidente quando ele, assim como muitos outros com afantasia, percebeu que as pessoas à sua volta falavam sobre “visualizar” ou “imaginar” cenas e ele não sabia como era essa experiência. Ele lida com isso concentrando-se em palavras e conceitos, em vez de imagens. Harkin aproveita suas habilidades cognitivas analíticas e verbais para estruturar suas piadas e suas pesquisas.
2. Penn Jillette – Ilusionista e Comediante

Penn Jillette, conhecido como parte da dupla mágica Penn & Teller, revelou que também tem afantasia. Curiosamente, como ilusionista, ele passa boa parte de sua vida profissional brincando com a percepção e criando ilusões visuais que enganam a mente das pessoas. No entanto, ele não consegue formar essas imagens mentalmente.
Apesar da aparente contradição entre sua profissão e sua condição, Jillette não considera a afantasia um obstáculo em sua carreira. Ele descreveu que, em vez de visualizar truques em sua mente, ele pensa em termos de sistemas e lógica. Ele trabalha com sua equipe e seu parceiro, Teller, para criar performances visualmente impressionantes. Para ele, a criatividade não depende de imagens mentais, mas de encontrar maneiras inteligentes de fazer o público acreditar no impossível.
3. Ed Catmull – Cofundador da Pixar

Ed Catmull, um dos fundadores da Pixar Animation Studios e ex-presidente da Walt Disney Animation Studios, é uma das figuras mais proeminentes a falar sobre sua experiência com a afantasia. Em uma entrevista para a BBC, Catmull revelou que não consegue visualizar imagens em sua mente, mesmo sendo uma das mentes por trás de alguns dos filmes de animação mais icônicos de todos os tempos.
Como alguém envolvido em uma indústria que depende tanto da imaginação visual, pode parecer surpreendente que Catmull tenha afantasia. No entanto, ele explicou que sua incapacidade de visualizar imagens mentais nunca o impediu de ser criativo ou de inovar. Em vez de visualizar cenas ou personagens em sua mente, Catmull confia no pensamento lógico e nas interações com sua equipe criativa para tomar decisões sobre animação e design.
Impacto da Afantasia na Carreira de Ed Catmull: A afantasia não impediu Catmull de revolucionar a animação digital. Ele se concentrou em aspectos técnicos e colaborativos de seu trabalho, permitindo que outros artistas visualizassem e implementassem as ideias criativas. Catmull também foi fundamental no desenvolvimento de novas tecnologias de animação, muitas das quais possibilitaram a criação dos mundos e personagens incríveis pelos quais a Pixar é conhecida.
4. Oliver Sacks – Neurologista e Escritor

Oliver Sacks, o renomado neurologista e autor de livros como O Homem que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu, é frequentemente associado ao estudo de condições neurológicas raras. Embora nunca tenha diagnosticado a si mesmo publicamente com afantasia, muitas de suas descrições pessoais sobre sua incapacidade de visualizar imagens sugerem que ele provavelmente viveu com essa condição.
Em seus escritos, Sacks frequentemente explorava os limites da mente e as diferentes maneiras pelas quais o cérebro humano processa informações. Ele acreditava que muitas das habilidades criativas e cognitivas que possuímos podem operar independentemente da visualização mental, e suas próprias experiências parecem refletir isso. Ao invés de confiar em imagens, ele focava em sensações, linguagem e outros sentidos para descrever suas experiências e observações clínicas.
5. Laura Kate Dale – Escritora e Ativista Britânica

Laura Kate Dale é uma escritora e ativista britânica, conhecida por seu trabalho como jornalista e por sua defesa das comunidades LGBTQ+ e neurodivergentes. Ela falou abertamente sobre ter afantasia, uma condição na qual ela não consegue criar imagens mentais. Dale também escreveu sobre suas experiências como mulher trans e no espectro autista, discutindo como essas identidades se cruzam em sua vida.
Em seu livro Uncomfortable Labels: My Life as a Gay Autistic Trans Woman, Dale explora sua jornada de autodescoberta, abordando diversos aspectos de sua identidade, incluindo a afantasia. Essa condição influencia sua maneira única de encarar a memória e a imaginação, já que ela não consegue visualizar as coisas da mesma maneira que muitas pessoas. A afantasia molda como ela navega pelo mundo, desde suas experiências diárias até como processa e compartilha suas histórias de vida.
Se você quiser explorar mais sobre a história dela, seu livro oferece uma visão detalhada sobre como a afantasia influencia sua vida, juntamente com outros aspectos de sua identidade, como ser autista e transgênero. Seus escritos dão voz àqueles com experiências semelhantes, oferecendo uma visão honesta e inspiradora de como é viver com essas condições sobrepostas
6. Richard Herring – Comediante e Escritor

Richard Herring, comediante e escritor britânico, falou sobre sua experiência com afantasia — a incapacidade de visualizar imagens mentalmente — em várias ocasiões. Embora não tenha sido algo que ele tenha destacado no início de sua carreira, ele mencionou essa condição em seus podcasts e entrevistas. Herring descreveu como descobriu que outras pessoas podiam visualizar imagens em suas mentes, algo que ele acreditava ser impossível para todos.
Ele abordou sua afantasia de forma bem-humorada em seu podcast, RHLSTP (Richard Herring’s Leicester Square Theatre Podcast), e até tentou “se curar” dela em um episódio, embora tenha aceitado que isso faz parte de sua forma de pensar. As conversas sobre o tema costumam misturar comédia com suas reflexões pessoais sobre como a afantasia afeta sua vida cotidiana e processo criativo. Em um dos episódios, ele comentou sobre como as memórias e a imaginação funcionam de forma diferente para alguém com afantasia.
Apesar da afantasia, Herring continua a ser bem-sucedido como comediante e podcaster, e suas discussões ajudam a conscientizar mais pessoas sobre essa condição, oferecendo conteúdo que pode ressoar com quem compartilha dessa experiência.
7. Lynne Kelly – Escritora e Pesquisadora

Lynne Kelly é uma escritora e pesquisadora australiana, mais conhecida por seus trabalhos sobre técnicas de memória e seu livro The Memory Code. Kelly revelou que tem afantasia, uma condição que impede a visualização mental de imagens. Apesar disso, ela desenvolveu e utiliza métodos de memorização, como o “palácio da memória”, que normalmente depende de visualizações mentais. Sua habilidade em usar essas técnicas, mesmo sem poder imaginar visualmente, mostra que é possível encontrar maneiras eficazes de memorizar sem recorrer à visualização.
Lynne Kelly, apesar de sua afantasia, usa uma técnica poderosa chamada “palácio da memória” (ou method of loci) para memorizar grandes quantidades de informações. Essa técnica, tradicionalmente usada para fins de memorização e amplamente utilizada em várias culturas antigas, envolve associar informações a locais específicos dentro de uma visualização mental de um ambiente familiar, como uma casa ou um caminho.
Mesmo com afantasia — a incapacidade de formar imagens mentais — Kelly adapta essa técnica utilizando outros sentidos e processos de associação. No caso dela, em vez de visualizar mentalmente os locais e as informações, ela cria uma sequência de lugares ou contextos associados a ideias ou fatos a serem lembrados, utilizando símbolos, conceitos ou até sons para ativar essas memórias.
Como Funciona a Técnica do Palácio da Memória:
- Escolha de um Local: Tradicionalmente, as pessoas com imaginação visual escolhem um local familiar, como uma casa, um prédio ou um caminho. Para pessoas com afantasia, como Lynne Kelly, o local pode ser mentalmente estruturado em termos de passos ou ideias sequenciais.
- Criação de Associações: Cada cômodo ou área desse “palácio” é vinculado a um pedaço de informação. Em vez de imaginar visualmente objetos, alguém com afantasia pode criar associações com fatos ou conceitos mais abstratos, talvez com uma narrativa ou uma sequência lógica que faça sentido para a memória.
- Percorrer o Local: À medida que você “caminha” pelo seu palácio mental, ou reflete sobre a sequência dos lugares escolhidos, as associações feitas ajudam a lembrar as informações que foram ligadas a cada um dos pontos do caminho. No caso de Kelly, essa caminhada pode ser mais uma progressão de ideias e pensamentos interligados do que um mapa visual.
Lynne Kelly destaca que mesmo sem imagens visuais, o uso de contextos familiares e a repetição dessas sequências podem ser igualmente eficazes. Ela afirma que a afantasia não a impediu de usar essa técnica com sucesso, e que qualquer pessoa pode adaptar essas técnicas de acordo com suas capacidades cognitivas.
Aplicações da Técnica
Kelly menciona que essa técnica de memória não apenas ajuda a recordar fatos e informações práticas, mas também é útil em situações como apresentações públicas ou para armazenar conhecimentos culturais e históricos, como era feito em civilizações antigas. Ela acredita que, mesmo sem a capacidade de visualizar, o cérebro humano possui uma capacidade incrível de adaptação para memorizar utilizando outros tipos de associação sensorial e conceitual.
Essa abordagem oferece uma visão interessante sobre a plasticidade da mente e como diferentes pessoas podem abordar o aprendizado e a memorização de formas que vão além das habilidades visuais convencionais.
Para mais detalhes sobre o trabalho de Lynne Kelly e sua abordagem às técnicas de memória, confira o livro The Memory Code, onde ela explora essas ideias mais profundamente.
8. Yoon Ha Lee – Escritor de Ficção Científica e Fantasia

Yoon Ha Lee, escritor de ficção científica e fantasia, é conhecido por sua série Machineries of Empire e também por ter afantasia. Essa condição, que impede a formação de imagens mentais, foi uma revelação importante em sua carreira como escritor, especialmente porque muitos autores de ficção dependem de visualizações vívidas para criar seus mundos e cenários.
Apesar de não conseguir visualizar imagens, Lee é capaz de descrever mundos complexos e ricos em detalhes, baseando-se em sua habilidade de trabalhar com conceitos abstratos e lógicos. Ele menciona que sua forma de criar cenas e personagens vem menos da visualização e mais de uma abordagem simbólica, onde ele pensa nas propriedades e funções dos elementos da narrativa. Por exemplo, ele pode não “ver” uma paisagem mentalmente, mas sabe como ela deve funcionar e quais sensações ou emoções ela deve evocar em seus leitores.
Lee também utiliza gráficos e diagramas para estruturar suas histórias, o que o ajuda a manter o controle sobre os complexos sistemas de magia e tecnologia presentes em seus livros. Sua afantasia não é uma barreira, mas sim uma característica que molda a maneira única como ele aborda a construção de mundos.
Seu trabalho, particularmente o sucesso de sua série de livros, prova que a imaginação e a criatividade não dependem apenas da visualização mental, mas podem ser expressas de várias formas. Lee inspira outros a verem que é possível criar universos inteiros, mesmo sem imagens claras na mente.
Se você quiser saber mais sobre sua experiência e como afantasia influenciou seu trabalho, ele fala ocasionalmente sobre o tema em entrevistas e em suas redes sociais.
9. Glen Keane – Animador, Autor e Ilustrador

Glen Keane, famoso animador, autor e ilustrador, é conhecido por ter dado vida a personagens icônicos da Disney, como Ariel (A Pequena Sereia), a Fera (A Bela e a Fera), e Pocahontas. Apesar de seu talento visual, Keane revelou que tem afantasia, uma condição que o impede de visualizar mentalmente imagens.
Essa revelação é particularmente fascinante, visto que seu trabalho depende intensamente da criação visual. Para Keane, a afantasia significa que, mesmo não conseguindo ver imagens em sua mente, ele usa outros métodos para desenvolver suas ideias. Em entrevistas, Keane comentou que sua criatividade vem mais de uma sensação interna e de um profundo entendimento dos personagens e histórias que quer contar, em vez de imagens mentais claras.
Ele descreve seu processo como algo que se desenrola diretamente no papel. Ao desenhar, ele descobre os personagens e mundos à medida que sua mão se movimenta. Isso mostra como a criatividade e a arte não são limitadas apenas à visualização mental, mas podem surgir de uma conexão intuitiva com a arte em si.
Glen Keane é uma prova inspiradora de que a afantasia não impede a criação visual. Na verdade, sua habilidade de transformar sentimentos e conceitos em arte sem depender de imagens mentais claras é o que faz dele um artista tão único e inovador.
Conclusão
Embora a lista de celebridades que discutiram publicamente sua experiência com afantasia ainda seja limitada, os casos que conhecemos mostram uma coisa clara: a afantasia, embora afete a forma como essas pessoas experimentam o mundo mentalmente, não é uma barreira para o sucesso. Seja em carreiras criativas, esportivas ou intelectuais, essas pessoas encontraram maneiras de lidar com a ausência de visualização mental e até mesmo de prosperar em suas respectivas áreas.
Cada indivíduo, seja famoso ou não, encontra estratégias próprias para superar os desafios que a afantasia pode apresentar. Essas histórias também nos lembram que existem muitas maneiras de ser criativo, inovador e bem-sucedido — a visualização mental é apenas uma das muitas ferramentas que podemos usar para moldar nossa experiência e expressar nossas ideias.